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Intervenção de Amílcar Cabral no Seminário de Quadros - 1969
Para assinalar o 90º aniversário de Amílcar Cabral, o Gabinete da Reforma do Estado, presta esta singela homenagem ao Pai da Nacionalidade Caboverdiana, com extractos de algumas intervenções feitas no Seminário de Quadros em 1969 na Guiné Conacri.
“Pensar muito os nossos problemas para podermos agir bem e agir muito para podermos pensar cada vez melhor”
“ Aprender na prática da vida, aprender a teoria, aprender com a experiência dos outros”
“ Na verdade o uso das armas para ganhar a guerra e mesmo para o progresso de um Povo é possível, mas o que é decisivo é o homem. O que vale é a consciência do homem”
“ O valor de um Homem ou de uma mulher mede-se pelo conjunto de ideias, pela força das ideias que tem na cabeça”
“ Cada ser humano, na Guiné e em Cabo Verde, tomou o seu destino na sua mão. Cada um tem o caminho aberto para avançar para um lado ou outro, conforme quiser, conforme a consciência e conforme o trabalho”
“É uma consciência nova que surgiu na nossa terra, e nós mesmos dirigentes, militantes, combatentes, responsáveis não nos damos conta da força da consciência do Povo, isso porque alguns de nós ainda não conseguiram desenvolver na sua mente um respeito verdadeiro pelo nosso Povo, convencidos de que só os responsáveis do Partido é que tem consciência”
“ Na verdade, grande parte da nossa população, mulher e homens, velhos e novos, e até crianças, têm do ponto de vista politico mais consciência de que alguns responsáveis do Partido e estão vigilantes e de olhos abertos”
“ Mal – avisados são os dirigentes que queiram guardar o lugar só para si, sinal que não tem consciência algum do dever para com o povo.”
“ Esses são servidores dos seus interesses não servidores do seu povo”.
“ Não estamos a lutar para servir interesses mesquinhos, é o nosso povo que queremos servir”.
“ O objectivo é garantir um futuro para a nossa terra, um futuro na mão do nosso povo”.
“ O nosso objectivo é fazer o progresso e a felicidade do nosso povo, mas não podemos faze-lo contra o nosso Povo”.
“ O nosso objectivo é destruir o Estado colonial para criarmos um novo Estado, diferente, na base da justiça, do trabalho, da igualdade de oportunidades para todos filhos da nossa terra”
“ Não vamos libertar o nosso povo só de colonialistas, mas de tudo quanto o prejudique no caminho do progresso. Temos que eliminar a ignorância, a falta de saúde e toda espécie de medo, gradualmente”
“ O trabalho na nossa resistência, é destruir tudo quanto faça de gente, homem e mulheres, cães, para deixarmos levantar, avançar, crescer como flores, tudo quanto possa fazer da nossa gente seres humanos de valor. É o nosso trabalho. Se não entenderem isso, ainda não entenderam nada”
“ Primeira condição para a resistência politica, económica, cultural e armada é unir as pessoas… unir e criar gradualmente a consciência nacional”
“ Temos de construir um Estado novo na nossa terra baseada na Liberdade, na Democracia, no Trabalho e para o Progresso”
“ A nossa realidade como todas outras realidades tem aspectos positivos e aspectos negativos, tem forças e tem fraquezas “
“ Nunca confundir o que se têm na cabeça com a realidade”
“ A realidade existe independentemente da vontade do homem e o homem na medida em que adquire consciência da realidade e na medida em que a realidade influência a sua consciência cria a sua consciência e pode adquirir a possibilidade de pouco a pouco transformar a realidade”
“Temos de desenvolver a nossa terra, faze-la avançar o mais possível.”
“ Esta é a nossa luta: a realidade social, realidade cultural, tudo vai mudar e há uma realidade política nova que surgiu na nossa terra: é nós mandarmos em nós mesmos”
“ Temos de ser capazes de aliar esses dois elementos fundamentais: pensamento e acção e acção e pensamento”
“ Hoje na nossa terra, muita gente que é capaz de julgar, de diferenciar o que está bem do que está mal, do ponto de vista politico porque qualquer homem e mulher no mundo, por mais ignorante que seja, mesmo que não tenha ido a escola, por mais miserável que se vista ou que viva, sabe distinguir o bem do mal, o justo do injusto. Do ponto de vista politico há uma consciência nova que se desenvolve na nossa terra”
“ O importante não está no nome, não esta na cor da pele. O importante é aquilo que cada um tem na sua cabeça e no seu coração, e o trabalho de cada dia que faz cada um verdadeiro filho da terra”
“ Temos de trabalhar muito para aproveitar o tempo, procurar ser práticos no nosso trabalho e incutir no espírito dos nossos a ideia do prático”
“ Precisamos de deixar de complicar as coisas eliminando da nossa mente a interpretação mágica da realidade. E que ainda na nossa maneira de pensar, se sentarmos, discutirmos muito bem um assunto e chegamos a acordo pensamos que a coisa já está feita. Mas acaba a discussão, cada um sai satisfeito da vida, mas não trata de fazer o trabalho porque na sua cabeça já está feito”
“ Desde agora temos desenvolver em todo nosso povo a consciência de que quando um ser humano está a fazer um trabalho deve faze-lo bem, o mais depressa possível e da maneira mais simples. Devem incutir e desenvolver no nosso espírito o sentido da perfeição que ainda não temos ainda”
“Devemos exaltar aqueles que fizerem mais, mas sem inveja, sem puxa-puxa, sem cotoveladas”
“ Cada responsável deve assumir com coragem as suas responsabilidades deve exigir dos outros respeitos e deve respeitar a actividade dos outros”
“ Chegou momento de estabelecimento de todo serviço de controlo eficaz para cada dirigente e responsável sentir que o controlo e inspecção são para servir, para ajudar andar cada vez melhor “
“ Não esconder nada as nossas populações, não mentir e combater a mentira, não disfarçar as dificuldades, os erros, insucessos, não acreditar em vitórias fáceis, nem nas aparências. Praticar e defender a verdade, sempre a verdade diante dos militantes, dos responsáveis do Povo, sempre quais forem as dificuldades que o conhecimento da verdade pode criar”
“Devem evitar a demagogia, as promessas que não podemos cumprir, exploração dos sentimentos do Povo e da ambição dos oportunistas”
“ A religião é assunto privado de cada um. Não vamos pegar na religião para fazer politica, isso não fazemos e nem aceitamos. Assim como não fazemos política com etnias, também não faremos com a religião”
“ Devemos agir de acordo com a realidade, dar a cada um a possibilidade de progredir“
“Devemos aumentar cada vez mais a força do povo, avançar com coragem para conquista do poder pelo povo para transformação radical da vida do nosso povo para uma etapa em que os meios de defesa, a nossa revolução, estarão inteiramente nas mãos do Povo”
“ Não ter medo do povo e levar o povo a participar em todas decisões que lhe dizem respeito”
“ Poder vem do povo, da maioria, e ninguém deve ter medo de perder o poder”
“ Devemos evitar confundir homem livre com o País Livre”
“ O mais delicado que há no mundo são as crianças. As crianças devemos dar o melhor que temos. Devemos educa-los para levantarem com espírito aberto, entenderem as coisas, serem boas, evitarem toda espécie de maldades”
“ É motivo de orgulho sentir, a pouco e pouco, as nossas mulheres a emanciparem-se e conquistarem o respeito para terem dignidade que dantes lhes era negada para trabalharem, terem funções na nossa sociedade e poderem afirmar-se claramente como iguais”. “Orgulho disso com a esperança de amanhã as mães dos nossos filhos, mães e irmãs do povo não passarão a vergonha”
“ Devemos sentir orgulho quando vemos as enfermeiras, professores, os doutores e engenheiros, mecânicos, electricistas e tantos quadros da nossa terra já formados que depois de regressarem, se dedicam com entusiasmo ao trabalho, com modéstia, simplicidade e com consciência”
“ Temos de melhorar o nosso trabalho de saúde, temos de fazer as nossas enfermeiras e enfermeiros trabalhem mais, temos de dar exemplo em qualquer lado. Os nossos enfermeiros e médicos devem trabalhar mais do que médicos estrangeiros que nos ajudam. Há que melhorar a distribuição de medicamentos e poupa-los. Temos de ter carinho pelos doentes e feridos”
“ Uma das desgraças da Africa, nos nossos dias, é que quem faz o segundo grau já não quer pegar no arado e na enxada para lavrar a terra. Na nossa terra mesmo que levemos o nosso povo até ao sétimo ano de Liceu, todos têm de pegar hoje na enxada e no arado, amanhã em tractores também para levarem a nossa terra como deve ser.”
“ Temos de acabar com indiferença da nossa gente em matéria da cultura, sempre com firmeza nas nossas decisões e determinação de fazer as coisas”
“ Evitar considerar que tudo o que vem do estrangeiro é sempre bom, ou então, tudo que é estrangeiro não vale nada. Há que aceitar o que é bom e recusar o que não presta”
“ Temos de desenvolver a nossa razão e sabedoria, enriquecer cada dia mais o nosso espírito”
“ Muitos pensam que ser africano é vestir o bubu ou usar panos. Isso são tretas, camaradas. Nós somos da Africa onde usam bubus e panos. Se quiserem usa-los, usemo-los porque são nossos e quando os vestirem não sintam vergonha de ninguém. O Pano é muito bonito, o Bubu é muito bonito, mas não são melhores de outras roupas.”
“ Africanos que se prezam são os que são capazes de dar a sua vida pela Africa e defendem os interesses do povo africano perante de quem for, esses é que são verdadeiros africanos”
“ Hoje o homem passeia na lua, colhendo pedaços do seu solo para trazer para terra. Parece que isso não tem nada ver connosco, filhos da Guiné e de Cabo Verde. Nos ainda estamos com os pés na lama para tirar os tugas da nossa terra, mas isso tem grande importância para causa de amanhã e se não estivéssemos nesta luta difícil deveríamos fazer uma festa grande pelo facto do homem ter chegado a lua. Isso é muito importante para o futuro da humanidade, na nossa terra, deste planeta onde vivemos. “
“Nós todos tínhamos a nossa vida e qualquer um de vocês podia estar em sua casa com a família, embora sob a dominação colonialismo, talvez alguns fossem advogados, médicos ou engenheiros dos português, como há lá outros, ou então agricultores, mecânicos, carpinteiros, alfaiates, sipaios, soldados, etc… mas nós resolvemos fazer das nossas cabeças aquelas sementes que se põem na terra para fazer nascer novas plantas. Claro que pode acontecer algum desastre, por exemplo, não chover e as sementes secarem todas, perdermos as sementes, não conseguirmos nada e ainda por cima ficarmos com fome. Podemos até não guardar bem o nosso trabalho e as pragas, os pássaros e macacos estragarem toda cultura. Esse é o risco da resistência. A resistência de um povo exige coragem para transformamos em sementes e criarmos uma nova plantação que dará então a felicidade desse povo e liberdade.”
“ Alguns ficam para trás mas cada dia há-de aparecer outros que vão em frente e só podem ganhar a resistência aqueles forem capazes de fazer a obra e crescer cada vez mais.”
“ A nossa luta não é de boca, é uma luta de facto, temos que lutar a sério”
“ A luta é acção de cada dia contra nós mesmos, contra o inimigo, acção que se transforma e cresce cada dia que passa até tomar todas as formas necessárias “
“ Não há diferença entre estar dentro e estar fora da terra, na nossa luta”
“ Pergunto se é impossível fazer de nossa terra, uma nação africana, vivendo na Paz, unida na liberdade e avançando a passos gigantes para o progresso. É impossível, camaradas? Então para diante vamos fazer isso somos capazes de fazer, camaradas.”
“ Aquele que confia hoje, embora não tenha quase nada, se trabalhar bem amanhã a terra, já não é miserável, é rico, porque confia e sabe que o caminho está aberto”
Amilcar Cabral – Seminário de Quadros 1969