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Em 1975 todos tínhamos heróis, recorda José Maria Neves
O actual primeiro-ministro recorda, em entrevista à Lusa, aquilo que sentiu no momento da independência do país. Os momentos entre o 25 de Abril de 1974 e o 5 de Junho de 1975 passaram a correr e são recordados com simpatia.
Aos 15 anos, José Maria Neves sabia que havia gente a combater pela independência e pela liberdade de Cabo Verde e alguns nacionalistas africanos detidos na prisão do Tarrafal. Para o primeiro-ministro, a coisa apresentava-se, assim, simples.
A vida de adolescente na Assomada, no interior da ilha de Santiago, onde nasceu em 1960, estava longe do “centro político” e a pequena localidade de então, hoje cidade, estava ainda mais longe da Cidade da Praia, cujos 40 quilómetros de estrada de terra pareciam, na altura, 200.“Eu tinha a ideia, na altura, 1975 – estava a entrar no liceu, no Ensino Secundário -, de que algo de novo, de transformador, estava a acontecer com o país.
No momento do «25 de Abril» (de 1974) – estava no actual 7.º ano -, percebi que tinha havido uma revolução e que algo de extraordinário estaria para acontecer. Depois, veio toda aquela movimentação para a independência. Apesar de adolescente, desejava ardentemente a independência e, para mim, era o momento de uma nova largada”, contou.Numa entrevista à agência Lusa sobre os 40 anos que passaram desde a independência de Cabo Verde, a 05 de Julho de 1975, “Zema”, nome por que é conhecido no arquipélago, diz lembrar-se da pobreza de então: as pessoas descalças e mal vestidas, as casas degradadas e uma atitude e comportamento “fechados”.
À distância de quatro décadas, José Maria Neves, hoje com 55 anos, lembra-se da chegada dos “heróis nacionais, quer os nacionalistas cabo-verdianos, guineenses e angolanos presos no Tarrafal, quer dos “míticos combatentes” na Guiné.“Sim (tinha heróis), eram basicamente os que vieram da luta de libertação ou os que saíram das prisões coloniais, designadamente do Campo de Concentração do Tarrafal […] e também alguns presos do Campo de São Nicolau, em Angola”, admitiu. “Tínhamos a ideia de gente que tinha combatido pela independência, pela liberdade, e que estava presa nos campos de concentração. E também começaram a chegar os míticos combatentes da liberdade da Pátria que estavam na Guiné-Bissau.
Eram esses os nossos heróis”, sublinhou. E foi nessa altura que despertou para a realidade política, ao começar a ler os textos e poesias de Amílcar Cabral, “pai” das independências da Guiné e Cabo Verde, que fora assassinado dois anos antes em Conacri (as circunstâncias da morte estão ainda por esclarecer).“Havia os cartazes e os panfletos, que eram divulgados na altura. «Amílcar Cabral, militante n.º 1, herói do nosso Povo», «Aristides Pereira, herói do nosso Povo», Pedro Pires também chegou. Tínhamos alguma admiração, até excessiva, diria, por esses grandes combatentes que tinham vindo para Cabo Verde”, reconheceu.
A partir da independência, o povo cabo-verdiano começou a sentir as coisas de forma diferente, com novidades como a nova bandeira e o novo hino. “Costumo dizer que já presenciei dois momentos fortes: o da independência, com uma nova bandeira e um novo hino, e, depois, o processo de democratização (1990/91), de novo com uma mudança da bandeira e do hino. Sou de três hinos e de três bandeiras. Isso dá ideia das mudanças, das transformações que o país acabou por ter durante todos estes anos”, salientou.
Hoje em dia, José Maria Neves diz-se “orgulhoso” de um país já nos “entas”, onde as pessoas já andam bem vestidas e calçadas, com um “outro brilho no olhar”, “já sem o desejo ardente” de querer partir para encontrar novas formas de vida fora do arquipélago, apesar de ainda muito haver por fazer. “Em 2001, não tinha a ideia que podíamos avançar tanto como nestes últimos 15 anos. Acho que Cabo Verde, tendo em conta as condições de partida, transformou-se completamente e hoje é um país absolutamente diferente daquele que ascendeu à independência”, afirmou.“Surpreende-me o percurso feito, os ganhos, e o país que, à partida, tinha menos condições para se afirmar no contexto das Nações, em África e no Mundo, foi aquele que, dos «cinco» (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), fez um percurso mais notável nestes últimos anos”, acrescentou.
José Maria Neves, que deixou a liderança do PAICV em Janeiro deste ano, após 15 anos como presidente, vai retirar-se da cena política cabo-verdiana nas próximas eleições legislativas, previstas para o primeiro trimestre de 2016, para se dedicar ao doutoramento e à docência universitária.
Jovens provocaram mudança do PAICV em 1997.
Em 1997, 22 anos após a independência, um grupo de jovens liderado por José Maria Neves “ousou” enfrentar o ”todo poderoso” Pedro Pires e respectiva direcção do PAICV, oposição na altura, pois “havia necessidade de provocar mudanças” no partido. Na altura, a “ousadia” de José Maria Neves, que já fora líder da Juventude do PAICV, não resultou, mas foi nesse preciso momento que o actual primeiro-ministro lançou as bases para conquistar a força política dois anos mais tarde.“Na altura, em 1997, achei que, 22 anos depois da independência, era o momento de provocarmos mudanças na liderança do partido. Pedro Pires poderia pensar noutros cargos, mas regressar à liderança do PAICV, do ponto de vista de um grupo de jovens dirigentes na altura, não fazia sentido”, disse à agência Lusa.
Segundo José Maria Neves, chefe do executivo desde 2001, em 1997, havia a consciência de que “era impossível derrotar Pedro Pires no partido, sobretudo porque as eleições eram indirectas, não directas.“Naquela cúpula dirigente, Pedro Pires ainda tinha um domínio quase absoluto. Mesmo assim tivemos 33% (dos votos no Congresso de 1997), o que foi bom, e projectou a minha liderança (para o de 1999). Ganhei praticamente o PAICV naquele congresso de 1997”, lembrou José Maria Neves, na altura com 39 anos.
Em 1999, após oito anos na oposição ao Movimento para a Democracia (MpD), José Maria Neves já não concorreu contra Pedro Pires, mas sim contra Felisberto Vieira, seu companheiro no caminho do PAICV e com quem viria a incompatibilizar-se politicamente, que contava com o apoio do até então líder do partido.“Como, aliás, já estávamos a prever, em 2000, Pedro Pires decide sair para se candidatar a Presidente da República (nas presidenciais de 2001, em que seria eleito)”, salientou o ex-presidente do PAICV (de 1999 a Janeiro deste ano). “A candidatura (de Felisberto Vieira) foi mais para (Pedro Pires) estar de novo na ribalta e poder posicionar-se para uma eventual candidatura à Presidência da República. Não era para o partido.
Quando decide candidatar-se, decide também apoiar outra candidatura à liderança do partido, a de Felisberto Vieira”, contou.Ganho o partido, o passo seguinte era vencer as legislativas de 2001, o que viria a suceder, depois de suspender o mandato de presidente da câmara de Santa Catarina (interior de Santiago, de onde tanto José Maria Neves como Felisberto Vieira são naturais), com maioria absoluta no Parlamento, tal como aconteceria em 2006 e 2011. Curiosa é a revelação de que, quando se sentou pela primeira vez na “cadeira” de chefe do executivo, ter sentido “um grande vazio”.
“Quando formei o Governo, nenhum de nós tinha experiência governativa. Tinha havido os primeiros três Governos de Pedro Pires (primeiro-ministro entre 1975 e 1991), na I República, e todos esses dirigentes já tinham, em 2001, mais ou menos abandonado a esfera de acção política (após 10 anos de governação do MpD, de Carlos Veiga)”, explicou. “Foi uma nova geração que assumiu o Governo. Chegámos aqui pela primeira vez e ninguém tinha experiência governativa. Senti um grande vazio, até porque a transferência de poderes (do MpD para o PAICV) também não tinha sido feita nas melhores condições, sem os principais dossiês. […] Foram momentos muito difíceis”, reconheceu.
Questionado sobre se poderá estabelecer-se o paralelo entre o que sentiu – não havia experiência governativa – e o vazio que Pedro Pires já assumiu ter sentido em 1975, José Maria Neves respondeu que não, pois o contexto de há 40 anos era “muito mais difícil e complexo”. Era “um país que ascendia à independência sem nada, sem instituições, sem recursos, com uma pobreza muito grande. Em 2001, a situação já era completamente diferente. Havia instituições, mas não tínhamos experiência governativa. Tínhamos uma máquina administrativa que, de uma forma ou doutra, funcionava. Tínhamos melhores condições económicas e já tínhamos empresas. A situação era diferente e não se pode comparar. Pode ter havido a mesma sensação de vazio, de angústia, mas a situação, do meu ponto de vista, era completamente diferente”, concluiu.
Fonte:Lusa